Os alunos do 2.º Ciclo da Escola Básica N.º2 de Carregal do Sal participaram no Concurso Literário "Quem conta um conto... acrescenta um ponto", promovido pelo semanário Sol em parceria com o Plano Nacional de Leitura.
Os alunos leram um dos livros da colecção Clássicos da Literatura Portuguesa distribuída pelo semanário Sol e escreveram um texto que dava continuação ao livro lido.
Numa primeira fase, os professores de Língua Portuguesa seleccionaram o melhor texto de cada turma. Aos autores destes textos foi oferecido um livro da referida colecção.
Numa segunda fase, foi escolhido um texto a nível do agrupamento, o qual foi enviado para o júri do concurso. O autor deste texto foi Leandro Francisco Marques Tiago do 5.ºD.
O Mandarim
Pobre Teodoro! Vive amargurado. Que saudades que ele tem da vida equilibrada e suave que sempre tivera.
Todos os dias pensava: maldita a hora em que toquei aquela maldita campainha. Todos os dias pensava: foi culpa do demónio! Foi ele que me tramou a vida.
Ele não podia continuar a viver assim. Sentia-se cada dia pior, com o peso na consciência.
Começou a ficar gravemente doente e não parava de pensar: Vou morrer. É hoje que eu morro e não sei a quem deixar tanta riqueza.
Então, decidiu escrever novamente ao seu amigo Camilloff para ver se ele conseguia descobrir a verdadeira família do Mandarim.
Camilloff percorreu a China de uma ponta à outra e encontrou várias famílias com o mesmo nome (Ti-Chin-Fu). Todas elas diziam ser a verdadeira família do Mandarim. Estava cada vez mais complicado de descobrir! Todos sabiam que Teodoro tinha uma fortuna para entregar e todos a queriam receber. Quem é que não queria tanto dinheiro?!
O tempo foi passando, Teodoro estava a ficar velhote e o seu grande problema continuava por resolver.
Um dia, saiu de casa encostado na sua bengala, e ao fim da rua estreita encontrou uma pobre mulher, de luto, com o seu filho já grandito, ao seu lado, a pedir esmola. Teodoro não ligou, mas quando passou por eles, de novo, ao regressar a casa, fixou o olhar naquela pobre mulher com aquela criança. Reparou que eles eram estrangeiros, talvez chineses. De repente, lembrou-se do Mandarim.
Começou a falar com eles e a mulher disse-lhe que quando o marido era vivo, eram muito ricos, mas assim que ele morreu ficaram na miséria. E por isso, decidiram vir viver para Portugal à procura de uma vida melhor.
Teodoro respirou fundo e exclamou:
-São vocês! São vocês a verdadeira família Ti-Chin-Fu!
- Sim, somos nós! Eu sou a esposa de Ti-Chin-Fu e este é o nosso filho. Desde que o meu marido morreu que vivemos muito sós. Passamos os dias na rua a pedir esmola para podermos comer.
- Você tem como provar que é mesmo a mulher do Mandarim? – perguntou Teodoro.
- Claro que sim!
Teodoro ficou aliviado. Finalmente, ia livrar-se daquela maldita riqueza que só lhe trouxera infelicidade.
A viúva e o filho receberam toda a riqueza e voltaram para a China.
Teodoro voltou à sua vida miserável, mas de paz. Aquela que ele nunca devia ter deixado de ter.
(Texto vencedor da fase agrupamento)